terça-feira, 30 de outubro de 2012

O uso das imagens da TV no futebol




Na última rodada do Campeonato Brasileiro, no jogo Internacional 2 x 1 Palmeiras, ocorreu um lance que está sendo discutido até agora. Numa jogada de escanteio, o atacante palmeirense Barcos marcou um gol utilizando a mão. Nem o árbitro da partida e nem o bandeirinha, que correu para o meio do gol, viram a irregularidade. Após muita confusão, o árbitro, avisado pelo delegado da partida, anulou o gol. Contudo, o delegado do jogo utilizou imagem da TV para constatar a irregularidade.

Tal fato não é novidade no campeonato brasileiro. No certame de 1997, no jogo Santos 1 x 2 Botafogo, o clube carioca teve um gol erradamente marcado ao seu favor: após cobrança de falta, a bola furou a rede por fora e caiu dentro do gol. O árbitro assinalou o gol. Os jogadores cercaram o árbitro e a confusão só foi desfeita depois que o bandeirinha, após consultar um repórter de TV, disse que a bola furou a rede. Na época, o então comentarista da TV, Arnaldo César Coelho, chegou a dizer em sua coluna que “a TV ajudou” como se fosse uma ocorrência positiva.

Bem, deste lance de 1997 até o da última rodada, foram disputados outros 14 campeonatos (sem contar o de 97 e o atual). Em quantas vezes mais houve alguma anulação de gol após ter sido constatada irregularidade pelas imagens da TV? Quantos gols irregulares não aconteceram em todas essas disputas? Falando especificamente de gol com a mão, um caso que gerou muita discussão foi no jogo Corinthians 3 x 3 Botafogo. O jogador alvinegro marcou um gol com a mão e chegou a reconhecer a irregularidade após a partida. Mas durante o jogo, ninguém teve a idéia de consultar a TV que já havia mostrado o detalhe do lance.

O Palmeiras agora pede anulação da partida e penso que o correto seria que conseguisse. Caso a partida não seja anulada, abre-se um precedente muito perigoso. E o que vai impedir que, de agora em diante, em qualquer lance de dúvida, um jogador pergunte a um repórter de campo o que a TV mostrou? Se amanhã alguém marcar um gol em impedimento e, depois do tento validado, o zagueiro dizer que “o repórter falou que o tira-teima mostrou impedimento”, o árbitro vai voltar atrás? É provável que não, mas os jogadores passarão a ter esse direito.

Assim, penso que se o uso da TV vai valer para esse lance, que se valha para todos. Mas que seja um recurso oficial e homologado, e não algo esporádico e muito menos controlado por empresa, que, teoricamente, não é a organizadora do campeonato. Não é nossa intenção levantar dúvidas acerca da idoneidade da rede de televisão. Contudo, ano passado já houve polêmica por causa de um repórter da TV que comemorou deliberadamente um gol marcado. Dessa forma, o ideal era a própria CBF tivesse as suas câmeras e que as imagens das mesmas fossem consultadas diretamente pelo árbitro. Talvez com a participação dos capitães das equipes envolvidas.

E isso não vale apenas para lances de faltas, mão na bola ou impedimentos não. Os tribunais de justiça desportiva tem seguidamente utilizado imagens da TV para punir jogadores. Porém, nem todos os lances do jogo são capturados (ou exibidos) pelas câmeras. Já houve cenas da partida pegas por câmeras amadoras de torcedores que não foram exibidas pela TV. Algumas até com agressões ou tentativas destas. É justo então o tribunal se basear apenas naquelas imagens que a rede de TV decidiu exibir?

Deve-se levar em conta que nem sempre o lance é trivial. É muito comum vermos lances repetidos na TV onde o comentarista diz que foi ou não foi irregular e você, espectador, em casa, tenha outra opinião. A palavra do narrador/comentarista não é a mãe de todas as verdades. Além disso, pode ser que nem sempre a imagem mostre o lance detalhadamente. Um caso emblemático ocorreu na Copa de 1998, no jogo Noruega 2 x 1 Brasil. O segundo gol norueguês surgiu de um pênalti que supostamente não aconteceu e gerou muita revolta entre os brasileiros. As câmeras mostravam que Junior Baiano, zagueiro do Brasil envolvido no lance, mal tocava no adversário. Contudo, dias depois, uma câmera sueca, posicionada ao lado do gol, mostrou o zagueiro puxando a camisa do norueguês. Ou seja, se o árbitro tivesse voltado atrás por causa da primeira imagem, teria deixado de marcar um pênalti que ocorreu! É necessário então, que se o uso do recurso eletrônico for adotado, seja implantado com competência e qualidade. E que se uso seja realizado da forma mais transparente possível.

Quero deixar claro que não concordo com a atitude do jogador Barcos. O palmeirense fez um ato irregular tentando ludibriar a arbitragem e merece até mesmo uma punição. Contudo, isso não legitima o uso de um agente externo na decisão da arbitragem. O que se discute aqui é o precedente que isso abre e as conseqüências que pode ter. Também não concordo com a teoria de alguns que “o erro que dá graça ao futebol”. Pelo contrário, o erro tira a graça do jogo e irrita o torcedor. Sou sim a favor de qualquer uso de tecnologia que diminua os erros no jogo. Mas que seja algo oficial e utilizado sempre que necessário. Porém, se considerarem complicado demais implantar, então que não se use nunca, e não isoladamente.

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