sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Jogadores, de agora em diante, tentem ganhar tempo!


Estádio Beira Rio, dia 27 de outubro de 2012. Jogo Internacional x Palmeiras pelo Campeonato Brasileiro. Aos 16 minutos do segundo tempo, o palmeirense Barcos faz um gol com a mão. Nem árbitro nem seus auxiliares percebem e acabam validando o gol. Após vários minutos de reclamação colorada, o árbitro, ao consultar o delegado do jogo, volta atrás e invalida o gol. Embora a arbitragem não tenha admitido, para quem acompanhou a discussão, ficou claro que houve interferência externa, ou  seja, o delegado ou alguém de fora do jogo viu o toque de mão através da TV e informou ao árbitro do jogo. O Palmeiras entrou com recurso pedindo anulação do jogo por causa desta interferência, mas o mesmo foi negado pelo STJD.

A partir daí, criou-se um precedente perigoso: qualquer lance duvidoso poderia ser revisto através de consulta à TV por qualquer agente externo ao jogo. Basta que alguém informe ao árbitro de forma velada e que este não admita essa interferência na súmula, que é absurdamente considerada sempre como verdade absoluta.

Depois disso, aconteceram outras situações semelhantes. No Campeonato Carioca de 2013, o árbitro confirmou um gol do Flamengo contra o Duque de Caxias, assinalado por Ernane em posição de impedimento. Após “conversa” com o auxiliar, que também havia validado o gol, voltou atrás e anulou. No mesmo campeonato, no jogo Botafogo x Madureira, o árbitro marcou pênalti a favor do time alvinegro. Quando a bola já estava na marca da cal, o árbitro voltou atrás porque o jogador que o jogador que sofreu o pênalti estava em posição irregular. Na Copa do Brasil de 2015, foi a vez do Santos ter um gol anulado minutos depois da marcação no jogo contra o Figueirense. Em todos os lances, fica claro há consulta externa.

Eis que ontem, no Fla Flu em Volta Redonda, o auxiliar anulou acertadamente um gol do Fluminense. Após conversa com o árbitro, pressionado por tricolores, foi confirmado o gol. Aí foi a vez dos rubro-negros pressionarem. Imagens mostram claramente jogadores falando do que a TV mostrou que estava impedido e o delgado do jogo entra em campo. Gol anulado novamente por interferência externa. O Fluminense disse que tentará anular o jogo, mas o STJD já se manifestou contrário à possibilidade. Diante do precedente aberto em 2012, é natural que o STJD se posicione desta maneira.

Do ponto de vista técnico e olhando cada jogo isoladamente, podemos considerar que a reclamação dos clubes que tiveram seus gols anulados não procede. Afinal, em todos os lances, o árbitro acabou anulando bem os gols, pois todos foram realmente irregulares. O problema é que o recurso eletrônico não é algo oficial, a regra não permite. Já ocorreram vários jogos em que o árbitro validou ou anulou um gol erradamente, mas não houve interferência externa para anulá-lo. Ou seja, olhando o campeonato de formal geral, isso acaba gerando desequilíbrio técnico. Por exemplo, no jogo Corinthians 0 x 1 Fluminense, o árbitro não consultou nenhum elemento externo e acabou validando um gol ilegal do time tricolor.

Diante desse quadro e da posição do STJD, o que fazer? Bem, a médio e longo prazo, que as federações abandonem a postura arcaica e comecem a utilizar o recurso eletrônico de forma oficial nos jogos. A curto prazo, o jeito é os clubes orientarem seus jogadores a pressionaram a arbitragem em lances polêmicos por tempo suficiente para que a TV seja consultada. Proposta absurda? Talvez, mas não menos absurda do quadro atual do futebol brasileiro.


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