segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Um estrangeiro no comando da Seleção Brasileira? Quem sabe...



Depois da demissão de Mano Menezes, o cargo de técnico da Seleção Brasileira de Futebol está em aberto. A expectativa agora é saber quem o ocupará. A princípio, foram especulados nomes mais conhecidos como Tite, Muricy e Felipão, todos com forte ligação com o futebol paulista. Mas em meio a esses nomes, surgiu também o do espanhol Josep Guardiola, que fez enorme sucesso recentemente com o Barcelona e a seleção espanhola.

O diretor de seleções, Andrés Sanchez a princípio já rejeitou a ideia considerando-a ridícula e dizendo que há bons treinadores no Brasil. Ele não está sozinho nessa opinião. Vários torcedores e jornalistas também rechaçam a hipótese. O principal argumento é o de que somos o país do futebol e por isso não faz sentido um estrangeiro comandando nossa seleção. Mas será que esse argumento é válido e verdadeiro?

Somos o único País a ter conquistado cinco Copas do Mundo. Isso de fato nos coloca num bom patamar. Entretanto, precisamos olhar o cenário atual. O Brasil hoje (dia 26/11/2012) ocupa a décima terceira posição do Ranking de Seleções da FIFA. Uma das piores posições já ocupadas pela Seleção. Nas últimas duas Copas, caímos nas quartas-de-final apresentando um futebol ruim desde a fase de grupos. E em ambas as Copas, exibimos um futebol preso, retrancado, que nem de longe lembrava o aclamado “melhor futebol do mundo” que conquistou outras Copas (com exceção da vencida nos pênaltis em 1994).

O Brasil pode rejeitar a ideia de técnicos europeus, mas o que fez nos últimos anos foi justamente copiar o estilo retrancado que algumas Seleções do Velho Mundo adotavam. Seguindo a ideologia de treinadores advindos da preparação física (Parreira, por exemplo), o Brasil apostou que a solução para vencer jogos é ter força física e correr muito. Com isso os pontas foram abandonados e o verdadeiro camisa 10 praticamente morreu. É raro vermos um time brasileiro que consiga tocar a bola agredindo o adversário. Normalmente quando se fica com a bola é para atrair o adversário, proporcionando ao torcedor jogos chatos e amarrados, caso o adversário não caia na “armadilha”. O curioso é que os próprios europeus já deram declarações de que o Brasil não precisava jogar sim. Eles jogavam assim porque não tinham a técnica dos brasileiros e precisavam nos marcar.

Andrés Sanchez disse que temos bons técnicos no Brasil, mas sejamos francos: que técnico no Brasil hoje apresenta um padrão tático diferente da maioria? Que técnico brasileiro consegue realizar uma variação que mude e vença um jogo? A grande maioria dos nossos treinadores segue um estilo semelhante baseado em primeiro se defender e depois, tendo espaço, atacar. O tão aclamado Muricy Ramalho, ao enfrentar o Barcelona pela decisão do Mundial de Clubes, disse na véspera que não sabia o que fazer. Este mesmo Muricy, no Campeonato Brasileiro atual, não conseguiu fazer o Santos jogar quando não tinha Neymar em campo. O mesmo se aplica a Ney Franco, que não conseguia fazer o São Paulo jogar quando não tinha Luis Fabiano e Lucas jogando juntos. E toda experiência de Felipão não foi suficiente para evitar o rebaixamento do Palmeiras.

Existem raras exceções. Cuca joga um futebol mais ofensivo. Tite também possui um estilo de marcação, mas sem ser retrancado. Consegue controlar o jogo mesmo sem a bola. Entretanto, ambos os treinadores são presos aos seus esquemas. Caso enfrentem um adversário que saiba sair daquela estratégia, também não conseguem variar.

Qual foi a grande inovação tática apresentada no Campeonato Brasileiro? Nem mesmo o legítimo campeão, Fluminense, conseguiu mostrar algo de novo. Abel Braga, nada fez além de retrancar o time (tendo grande ajuda do goleiro) e se garantir na qualidade de seus jogadores de frente. Nenhum time brasileiro mostrou algo novo ou um jeito diferente de jogar.

Atualmente somos o país com maior poder econômico na América do Sul. E isso é refletido no futebol. Na Copa Libertadores e na Sul-Americana é nítida a superioridade técnica dos times brasileiros, pois os nossos vizinhos têm perdido seus principais jogadores cada vez mais cedo para a Europa. Contudo, mesmo assim é incrível como em vários jogos nossos times penam para vencer. Isso porque nossos treinadores levam incríveis nós táticos de treinadores uruguaios e, principalmente, argentinos. Dão sempre a desculpa de violência e altitude, mas a verdade é que em vários jogos, contra times sul-americanos, vemos nossos atacantes bem marcados e os atacantes rivais entrando por trás de nossas defesas. E assim mesmo com um time tecnicamente inferior, os clubes rivais conseguem fazer jogo duro contra os brasileiros. Será que nossos treinadores não precisavam evoluir?

E infelizmente esse entrave já atinge o futebol brasileiro desde as divisões de base. Ontem ocorreu a final da Taça Otávio Pinto Guimarães entre os juniores de Botafogo e Flamengo. O que se viu foi quando um time estava na frente, se retrancava esperando o contra-ataque. Enquanto isso o outro corria como um louco para empatar no abafa. Não havia uma tabela e nem tentativa desta. Ou seja, nossos jogadores desde cedo vão se especializando nesse tipo de futebol.

Entretanto, é necessário lembrar que esse estilo de jogo do Barcelona, que encanta o mundo, não foi implantado da noite para o dia. Guardiola precisou de tempo para dispensar jogadores, trazer outros e assim consolidar o esquema. Como falta pouco tempo para a Copa do Mundo e menos ainda para a Copa das Confederações, é bem provável que ele não tenha tempo para conhecer os jogadores brasileiros para montar um time eficiente. Hoje se perguntarmos a ele quais os melhores jogadores do Brasil, provavelmente só dirá os que jogam na Europa. Ele de fato precisaria passar alguns meses no Brasil conhecendo os jogadores que atuam aqui.

Além disso, também seria muito importante que Guardiola, ou qualquer técnico estrangeiro, não sofresse interferência externa na seleção. É nítido, em algumas convocações, que os treinadores recentes (Mano e Dunga) pareciam não estar usando suas próprias convicções para chamar os jogadores. Isso sem falar da interferência da mídia. Nem Dunga nem Mano Menezes apresentaram bom padrão de jogo, mas o primeiro pelo menos conseguiu melhores números com algumas conquistas. Mano não chegou nem perto disso, mas mesmo assim, curiosamente, teve mais apoio da mídia. 

Assim, é provável que o momento atual não seja o mais propício para a chegada de um técnico estrangeiro. Todavia, não penso que a ideia deva ser descartada. O futebol brasileiro precisa de uma mentalidade diferente, uma inovação tática e nossos treinadores já provaram que não são capazes de implantá-la. Um estrangeiro poderia não apenas implantar essa mudança, mas também obrigar nossos técnicos a evoluírem. Fato que já observamos em outros esportes, como na ginástica que com a contratação de Oleg Ostapenko teve evidente avanço no desempenho de seus atletas. Já no basquete masculino, temos este exemplo ainda mais claro. Primeiro foi espanhol Moncho Monsalvo e depois veio o campeão olímpico de 2004 Rubén Magnano.

Logo, é evidente que seria melhor que o treinador tivesse mais tempo, um projeto desde o início para outra Copa; um projeto de quatro anos. Mesmo assim, a contratação de um técnico estrangeiro e vencedor seria uma tal chacoalhada na seleção e teria reflexo em outros aspectos bem específicos do esporte no país. Seria um passo muito mais ousado e assertivo, que apostar em nomes batidos, seja motivado por comodismo, seja por vaidade desse ou daquele dirigente. Até porque em muitas vezes para alcançarmos o sucesso e/ou reconquistá-lo, é necessário mudar drasticamente certos pontos de ação. A oportunidade está aí...

* Editado às 12:38 (dois parágrafos finais adicionados por Francisco Costa)

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