segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A imprensa esportiva e sua pressa de eleger um alvo



Uma das práticas antigas da imprensa esportiva, principalmente no futebol, é a de escolher um alvo, um personagem motivador ou causador de uma situação. Seja esse personagem para o bem ou para o mal. Não há dúvidas de que muitas vezes a presença de um jogador transforma totalmente o time. Alguém imagina o Napoli campeão italiano sem Maradona? O problema é quando a escolha desse personagem é apressada e sem critérios.

Atualmente nos canais esportivos temos um batalhão de comentaristas pagos para explicar os momentos dos times brasileiros. Devido à grande oscilação da maioria dos times, fica difícil montar um prognóstico ou dar uma justificativa para alguns resultados. Na ânsia de se procurar um “porquê”, acaba-se apelando para a figura do personagem sem se pensar muito. O mais recente, foi o holandês Seedorf.

Após uma vitória nada convincente sobre o Sport, o Botafogo amargou uma série de 3 jogos sem vitória, sendo um empate e duas derrotas, a última de goleada para o São Paulo. Como é natural no Brasil, o técnico balançou no cargo e a fragilidade do time começou a ser criticada. Até que, mesmo sem jogar bem, o Botafogo venceu o confuso time do Coritiba por 2x0. Seedorf não atuou nessa partida. O resultado disso foram vários comentários do tipo “o time correu mais sem o Seedorf”.

A partir daí surgiram colunas e matérias falando do condicionamento físico do holandês. Diziam que cadencia demais o jogo. Coloca muita pressão sobre os mais jovens. Quer ser dono do time. Enfim, parecia que Seedorf era o vilão da história.

Eis que o holandês volta contra o Cruzeiro, tem uma atuação de gala marcando dois belos gols e dando uma assistência. E agora? Como manter a coerência depois de tudo que foi dito do jogador? O jeito foi exaltar a atuação (que repercutiu internacionalmente) e aguardar um pouco. Quem sabe não foi algo isolado? O problema é que o time voltou a vencer depois, com Seedorf novamente participando ativamente dos gols. O argumento então se tornou praticamente insustentável. Seria mais prudente analisar todos os componentes que envolveram as derrotas e as vitórias antes de se, apressadamente, eleger um jogador. OK, contra o Cruzeiro é inegável que Seedorf foi ofensivamente decisivo. Mas e na defesa e na proteção a esta? Houve alguma mudança? Ou Seedorf marcou também?

O mesmo vale para as derrotas. Será mesmo que foi simplesmente o estilo de jogo mais cadenciado do holandês que prejudicou o time? E na vitória sobre o Coritiba, foi apenas a maior correria que determinou a vitória?

Uma das coisas legais do futebol é que muitas vezes é debochado e gosta de tripudiar da crônica esportiva. Principalmente esse instável time do Botafogo. E bastou Seedorf ficar de fora dos dois últimos jogos para o time empatar ambas as partidas. Não, não estou dizendo que foi a falta do holandês que provocou os resultados. Porém, o fato é um prato cheio para os apressadinhos e para os que não ligam de serem incoerentes. Se pelo menos dessem o braço a torcer e dissessem “me apressei na análise e acabei falando besteira” seria louvável. Mas aí é pedir demais.

O campeonato segue. Com tantas oscilações, várias trocas de posições devem acontecer. É improvável que o campeão não saia do trio Fluminense, Atlético/MG e Grêmio. Mas do meio para o fim da tabela, ainda deve acontecer muita disputa. Muitos técnicos ainda devem cair e muitos jornalistas ainda vão ficar com sorriso amarelo.

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