domingo, 22 de junho de 2014

Benzema e a discriminação na Europa


Recentemente foi publicado que o atacante da Seleção Francesa de futebol, Karim Benzema, não canta o hino francês antes dos jogos. O silêncio do jogador é um protesto à violenta letra que a canção possui. Benzema é descendente de argelinos, povo que num passado recente sofreu muito com os colonos franceses.

A atitude do jogador não é bem vista por alguns extremistas na França, que já pediram até o seu corte na seleção. O ex-técnico francês, Laurent Blanc, queria impor até uma cota de no máximo 30% de jogadores descendentes de africanos. 

É curioso ouvir essa sugestão discriminatória na França, já que seu principal jogador recentemente, Zidane, também era descendente de imigrantes. Na seleção atual mesmo, há outros atletas filhos de não franceses (Valbuena, Cabaye e Sagna são exemplos). Assim, como uma seleção que sempre dependeu de imigrantes pode pensar em cortá-los?

Alguns argumentam que Benzema é hipócrita ao não cantar o hino, pois se ele fosse mesmo correto deveria jogar pela Argélia. Bem, nunca conversei com Benzema para saber o que ele pensa da França como um todo. Mas quem garante que o único  problema dele é com o hino? Pessoalmente, acho que a Marselhesa tem uma melodia muito bonita, mas uma letra de fato sangrenta. Assim, Benzema pode muito bem achar a vida na França ótima, mas tem todo direito de não gostar da letra do hino por razões próprias. É admirável ver o país que foi o berço do Iluminismo ter uma atitude tão autoritária.

Mas o que não tem nada de admirável, mas sim de assustador e até temeroso é ouvir falar em qualquer tipo de discriminação na Europa. A história mostra que, em momentos de crise econômica (como agora), eles reagem de forma bem violenta contra os discriminados.

Levaram as classes menos favorecidas à morte nas cruzadas. Degolaram multidões na revolução francesa. Mataram inocentes na Caça às Bruxas. Humilharam trabalhadores na Revolução Industrial. Exterminaram judeus e russos na Segunda Guerra. E mutilaram a África em colonialismo imbecil que deixaram feridas e máculas no continente que, talvez, nunca sejam curadas.

Atualmente, estão novamente em crise, pois não conseguem manter seu padrão de vida da “Belle Époque” sem colônias para explorar. E não suportam ver seus ex-colonizados fazendo tour e piquenique em seu terreno.

O que será que a Europa pode inventar agora? Nova guerra ou mais movimentos xenofóbicos? Torço para que isso não aconteça. E torço mais ainda para que o futebol, mais do que nunca, cumpra seu papel histórico de união e não diferença entre os povos. À França? Desejo que reveja os antigos ideais do homem livre. Não só à França, mas a toda Europa. Ao Benzema? Desejo boa sorte!

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